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Auto

[Do lat. actu.]

S. m.

 

Teatro -  Composição dramática originária da Idade Média, com personagens geralmente alegóricas, como os pecados, as virtudes, etc., e entidades como santos, demônios, etc., e que se caracteriza pela simplicidade da construção, ingenuidade da linguagem, caracterizações exacerbadas e intenção moralizante, podendo, contudo, comportar também elementos cômicos e jocosos.

 

 

 

O texto e as 10 músicas que compõem o Auto foram escritos em 1966 pelo Professor Osvaldo Ferreira de Melo, com a colaboração do Professor Aníbal Nunes Pires, autor de uma poesia escrita especialmente para a peça e da letra da música “Florianópolis”, que encerra a obra.

 

Segundo o Professor Osvaldo Ferreira de Melo, “a concepção da peça surgiu, por um lado, da intimidade do autor com a documentação sobre a emigração açoriana para o litoral catarinense, bem como acerca das sobrevivências culturais deixadas pelos nossos povoadores. Por outro lado, pesou a experiência do autor com a linguagem musical e poética com a qual tem expressado as raízes dessa cultura. O tema central do Auto – a partida de alguns milhares de açorianos para povoar o litoral catarinense – se desenvolve em duas linhas. A primeira delas é uma reflexão sobre qual a maior demonstração de coragem: a do que decide enfrentar incertezas e perigos na busca de conquistas ou a do que sente que é maior dever e risco participar da tentativa de superação das calamidades que afligem a sua gente. Dois violeiros, em desafio e dois jograis, em contraponto, conduzem essa linha. A outra é de natureza afetiva, envolvendo personagens que tiveram suas famílias e seus amores desunidos pela partida de uns e permanência de outros. Então a magia da música e da poesia conduzirá essa linha, participando, com sua contribuição estética e emocional, dos signos surrealistas da narrativa.”

 

O Auto, escrito inicialmente para ser apresentado em dois atos, tem como personagens o ARAUTO, um PESCADOR, a RAPARIGA, os VIOLEIROS A e B, o CORO DRAMÁTICO, o CORO DOS CONQUISTADORES, a TERRA DE ALÉM MAR, a SEREIA, o ESTRANHO e o POVO.

O Canto da Partida

PRIMEIRO ATO

 

CENA 1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ARAUTO: 

 

El-Rei, Nosso Senhor, atendendo às representações dos moradores / das ilhas dos Açores / que pedem tirar delas o número de casais que de seu agrado for / para além-mar / o que resulta para as ilhas grande alívio / em não verem padecer os seus moradores / reduzidos a toda espécie de males / que a indigência sempre traz consigo / para o Brasil a esperança e o grande / benefício de povoar de cultores / parte dos vastos domínios. /  Decidiu fazer mercê aos casais das ditas ilhas / que quiserem ir estabelecer no além-mar / mandando-os transportar à custa da sua Real Fazenda /não só por mar, mas também por terra / até os sítios que se lhes destinarem / não sendo os homens de mais de 40 anos e não sendo as mulheres de mais de 30. / E logo que chegarem aos sítios / que hão de habitar / se dará a cada casal uma espingarda / duas enxadas / uma enxó / um martelo / um facão. / Duas facas / duas tesouras / duas verrumas / uma serra / com lima e travadeira / dois alqueires de sementes / duas vacas e um cavalo / e no primeiro ano se lhes dará a farinha / que entender bastar para o seu sustento ...

 

QUARTETO:

 

Que esperais indecisos / enquanto fala o emissário do Rei? / Eis momento de ouvir. / A sereia está falando doce / pela voz do Arauto.

 

 

ARAUTO: (falando)

 

Libertai-vos da areia mole / da terra magra / das pedras mais duras que a vossa faina.

 

 

CORO DOS PESCADORES: 

 

A momento de ouvir / seguirá momento de fugir. / Fugir dessa canseira louca / de remendar cada noite / rede que o mar vai roer / no outro dia.

 

QUARTETO:

 

A sereia está falando doce / pela voz do Arauto. / Quem quiser ouvir, ouvirá / mas terá que guardar o seu canto / para sempre.

 

Ouço o meu povo anunciar / o momento da partida. / Venha minha gente escutar / meu canto de despedida. / Que eu vou para outras terras / onde nunca pus a vista / mas eu já pertenço à gente / que pró Rei vai à conquista / pois os mares já me chamam / e que Deus a mim assista.


Vejo o meu povo falar / com temor no coração. / Venha minha gente escutar / meu canto de afirmação / e de amor por esta terra / onde eu nasci um dia / e que sempre vai contar / com a minha alegria / pois meus olhos foram feitos / para a sua companhia.

Vejo muita gente temer / a partida pro além-mar / como se alguém fosse partir / para nunca mais voltar. / Eu também amo esta terra / e a sua natureza. / Também vejo as raparigas / carregar tanta beleza / mas também muita feiúra / vi da mais triste pobreza


Sei que não irão outras terras / abrigar tanta beleza. / Temo que não possam outros ares / mudar a nossa pobreza. / Se não conquistamos já / o que perto nos ficou / como poderemos ter / o que nunca nos amou? / Pois na posse e na conquista / muita coisa há que pôr.

Desafio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUARTETO: 

 

A sereia está falando pela doce voz do Arauto / e ela entende de dor, de angustia, de fome, de dúvida... / E até de saudade / que ainda vai chegar.

 

 

 

 

O Canto da Despedida

Ouço o meu povo anunciar / o momento da partida. / Venha minha gente escutar / meu canto de despedida. / Que eu vou para outras terras / onde nunca pus a vista / mas eu já pertenço à gente / que pró Rei vai à conquista / pois os mares já me chamam / e que Deus a mim assista.


Vejo o meu povo falar / com temor no coração. / Venha minha gente escutar / meu canto de afirmação / e de amor por esta terra / onde eu nasci um dia / e que sempre vai contar / com a minha alegria / pois meus olhos foram feitos / para a sua companhia.

Vejo muita gente temer / a partida pro além-mar / como se alguém fosse partir / para nunca mais voltar. / Eu também amo esta terra / e a sua natureza. / Também vejo as raparigas / carregar tanta beleza / mas também muita feiúra / vi da mais triste pobreza


Sei que não irão outras terras / abrigar tanta beleza. / Temo que não possam outros ares / mudar a nossa pobreza. / Se não conquistamos já / o que perto nos ficou / como poderemos ter / o que nunca nos amou? / Pois na posse e na conquista / muita coisa há que pôr.

 

 

 

 

QUARTETO:

 

Sereia falou, ouvidos ouviram. / Feitiço pegou, cortando raízes / de homens que como todos os homens / precisam de paz e amor / porém que como todos os homens / mais que paz e amor / perseguem vitórias / e que por isso devem ser fortes na sua fraqueza / para uma contínua conquista / de coisas / que pelo infinito das perspectivas / se tornarão, talvez, inconquistáveis.

 

Me dizes que o amor / não dói de guardar / mas sabes que dói / fazê-lo calar. / Por isso eu canto / pra me despedir, / sabendo que dói / deixar-te partir. / Ninguém sabe quanto / eu devo reter / amor que em meu peito / vai se esconder. / Ninguém sabe quanto / me pesa lembrar / que amores outros / irás abrigar...


Me dizes que o amor / não dói de guardar / mas sabes que dói / fazê-lo calar.


Por isso eu canto / pra me despedir, / sabendo que dói / deixar-te partir. / Ninguém sabe quanto / eu devo reter / amor que em meu peito / vai se esconder. / Ninguém sabe quanto / me pesa lembrar / que amores outros / irás abrigar/... No além-mar.

 

A Nossa Lira

Assim como as flores nascem / a nossa lira nasceu, / assim como as flores morrem / a nossa lira morreu. / Ninguém espera da vida / que tudo se ajuste ao amor. / Se brotam lírios do campo / não vivem sem água e calor./ Nem sempre se encontra perfume no ar. / estrelas no céu e peixes no mar, / se tudo se ajusta no mundo do sonho / no mundo do poeta viver te proponho. / E a nossa lira, a do bem querer, / com arte e cuidado irá renascer. / / E a nossa lira, a do bem querer, / com arte e cuidado irá renascer.

 

 

QUARTETO: 

 

Os enfeitiçados vão ao mar. / Bons ventos os levem, valentes e frágeis criaturas. / Cuidai bem que as saudades não perturbem / a caminhada de vossa conquista. / Ide, loucos e heróicos caracóis. / Sois agora um símbolo / porque antes uma decisão. / Ide, caracóis / e fazei de vossa loucura, / de vossa coragem, / de vossa esperança, / de vossas vitórias / e de vossos sofrimentos / fatos para a conquista / que esperais empreender. / Mais sabei todos que na posse ou na conquista / haverá um ato de mútua decisão, / de mútua entrega. / E que entre conquistador e conquistado / reinarão tais perturbações / que um não se distinguirá do outro, / assim como a morte se confunde com a vida.

Açucena

Açucena quando nasce, / longe do pé bota flor... / Na ausência se conhece / quem é firme em seu amor. / Perguntei ao sol se viu, / à lua se conheceu, / às estrelas se encontraram, / amor firme como o meu. / Mas meu amor foi embora / pra banda em que o sol entrou / e o sol já foi, já veio, / meu amor foi e ficou.


Açucena quando nasce, / longe do pé bota flor... / Na ausência se conhece / quem é firme em seu amor. / Perguntei ao sol se viu, / à lua se conheceu, / às estrelas se encontraram, / amor firme como o meu. / Mas meu amor foi embora / pra banda em que o sol entrou / e o sol já foi, já veio, / meu amor foi e ficou.

A Tempestade

Canoa no Mar

Cada vez que olho e vejo / canoa no mar à vela / Ah, Ah, Ah, Ah, Ah, Ah, / me arrasam os olhos d’água / me lembro da minha terra. / Eu me lembro da minha terra / eu me lembro da minha amada, / Ah, Ah, Ah, Ah, Ah, Ah, / catando pedra miúda, / sereno da madrugada. / Ah, Ah, Ah, / e se vêm as estrelas / vou ouvindo ao vê-las / o chamado do mar. / Ah, Ah, Ah, / tanto me lembro dela / quando içando a vela, / vou meu barco levar.

Cada vez que olho e vejo / canoa no mar à vela / Ah, Ah, Ah, Ah, Ah, Ah, / me arrasam os olhos d’água / me lembro da minha terra. / Eu me lembro da minha terra / eu me lembro da minha amada, / Ah, Ah, Ah, Ah, Ah, Ah, / catando pedra miúda, / sereno da madrugada. / Ah, Ah, Ah, / e se vêm as estrelas / vou ouvindo ao vê-las / o chamado do mar. / Ah, Ah, Ah, / tanto me lembro dela / quando içando a vela, / vou meu barco levar. / Com o chamado do mar, / vou meu barco levar. / Com o chamado do mar, / vou meu barco levar.

CORO DRAMÁTICO: 

 

Entre nós e os Açores – o mar. / Agora somente o mar, / o grande mar, / mar, / mar, / mar.

 

SOLISTA: 

 

Maldito quem / o primeiro madeiro / ao mar jogou!

 

CORO DRAMÁTICO:

 

Luas passaram. / Lágrimas prateadas / de nossas gentes / sobre os destinos / dos que partiram / na viagem de retorno.

 

SOLISTA: 

 

Maldito quem primeiro / o cabo ultrapassou!

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

As estrelas apontaram / caminhos nas águas / e a solidão / inventou saudade no coração.

 

SOLISTA: 

 

Maldito quem primeiro / o Cabo das Tormentas dobrou!

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

As nuvens / esconderam as estrelas; / depois as tempestades, / a escuridão,/ confundiram as almas.

 

SOLISTA: (falando) 

 

Malditos os que chegaram / às Índias e às Américas!

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Os homens nus e a paisagem verde / despertaram a ambição. / Os ventos castigaram as naus / e a morte riu / nas escotas dos barcos ligeiros. / A sede, a angústia, o calor. / O frio, a morte, a dor. / Filhos morrendo. / Homens atirados ao mar. / Que outros desígnios vos esperam / nessas ilhas sem endereço? / Pelos caminhos do mundo / nenhum destino se perde. / Há os grandes sonhos dos homens / e a e a surda força dos vermes. / Inquietas estão as sementes. / Apenas parecem adormecidas. / Vossa terra será nova. / Ide conquistá-la

/ não para dá-la a um / mas para dá-la a todos. / Para todo o vosso povo. / Saberemos acariciar as novas flores / porque a terra nos ensinará a ternura.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Benditos sejam os ventos do mar./ Ó bendita seja a fé dos nossos corações. / Benditos sejam os anjos do céu. / Que a terra-nova encontramos. / Como é bela, meu Deus! / Feliz daquele que a conquistar / e por ela for conquistado.

Tema da Terra

Uma gaivota, / estranha gaivota, / está chegando à praia ensolarada, / uma alegria pura, uma alegria, / canta nos olhos dos que sofrem na terra / dos que vencem no mar.


Mãos honestas e fortes / lançam acenos, / soltam os remos, / retiram peixes, / tiram mais peixes, / o alimento bom. / Risos de alegre vitória / lançam nos olhos,/ nos lábios felizes, / tudo é convite para / um descanso em noite de dança no clube da vila. / Onde há cachaça pra esquentar / e violão para tocar, / moça bonita pra espiar / e ratoeira pra dançar. / Onde há cachaça pra esquentar / e violão para tocar, / moça bonita pra espiar / e ratoeira pra dançar. / Ratoeira bem cantada / faz chorar, / faz padecer . / Também faz um triste amante / do seu amor esquecer. / Meu galho de malva, / meu manjericão, / dá três pancadinhas no meu coração. / Meu galho de malva, / meu manjericão, / dá três pancadinhas no meu coração.

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Um dia fomos decisão e por isso partimos.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Uma opção, opção apenas.

 

CORO DOS CONQUISTADORES:

 

E terras estéreis deixamos às pedras.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Que sustentaram nossas terras.

 

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

E aos mortos, o cuidado de enterrar os mortos.

 

CORO DRAMÁTICO:

 

Que ajudaram a adubar a terra abandonada.

 

CORO DOS CONQUISTADORES:

 

Enfrentamos o mar, imenso e bom.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Que sepultou os que não puderam chegar.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

E temos dito: somos os conquistadores.

 

CORO DRAMÁTICO:

 

Que pouco conquistastes, porque ainda não fostes conquistados.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

A terra encontramos!

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

E ainda não aprendestes a amá-la.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Éramos, nas ilhas, cansados de fome e tédio.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

E por muito tempo, por tais mazelas, tendes sido acompanhados.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Andávamos em andrajos.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Que panos grossos podem encobrir miséria envergonhada?

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Tão pobres em nossa terra ...

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Declarados então, disfarçados depois.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

O mar novo nos daria alimento.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

E o velho cansaço e a velha prisão.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Ouvimos a fala do Rei e por isso partimos.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

A sereia falou doce pela voz do Arauto. Onde as tenças, as enxadas, as reses nos primeiros momentos?

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Teríamos filhos ilustres.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

E tantos sem letras, sem luz, sem destino.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Vencemos! Vencemos!

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

A conquista exige doação continuada.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Ouçamos o futuro. Ouvi! As vozes das universidades ecoam!

 

 

(Neste momento começam algumas projeções com imagens da Ilha de Santa Catarina)

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Misturando-se às vozes obscuras dos analfabetos ainda.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Que belas filhas viriam de nossas sementes!

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Entre tantas que são velhas aos trinta anos.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Braços fortes levam barcos à vitória nas raias olímpicas.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Enquanto outros, desnutridos, não podem sustentar os remos da pesca.

 

CORO DOS CONQUISTADORES:

 

Ouvi a polifonia dos que trabalham.

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

E o clamor atonal dos sem emprego.

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Conquista!

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Quando?

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Conquista!

 

CORO DRAMÁTICO: 

 

Quando?

 

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

Conquista!

 

CORO DRAMÁTICO: (falando)

 

Quando?

Canto da Sereia

Viajante, terás agora / finda a viagem tormentosa / o prêmio tão esperado / que te foi bem destinado. / Esquece assim a tua dor / que nasceu da nostalgia / e dá todo o teu amor / a quem te espera na alegria. / Mas ó, viajante valente, / cuida bem em ser prudente / quem vai conquistas buscar / terá seus riscos que aceitar, / quem vai conquistas buscar / terá seus riscos que aceitar.

CORO DOS CONQUISTADORES: 

 

A terra foi conquistada. / Bendito os frutos do teu ventre!

 

 

 

 

POVO: (canta FLORIANÓPOLIS – Partitura 10)

 

Vem vento vem, vem do mar, / varre essas nuvens do céu. / Borda a noite de um azul escuro / com estrela e luar. / Vê Saudade, a praia faceira, / no jardim a velha figueira. /Em Itaguaçu, pedra e mar / e a Conceição pra sonhar! /  Vê o Morro da Cruz, meu presépio / e a ponte que é luz a chamar. Vê também o meu coração / e a voz do meu violão.

 

CORO DRAMÁTICO: (falando)

 

Cuidai, / pois toda conquista será um ato de mútua decisão, / de mútua entrega, / de doação recíproca, / de exigências graves e continuadas / para que sejam boas, /  pela validade de cada momento perfeito. / Vós o sabeis!

 

 

 

Vós, que sois os frutos e as sementes, deveríeis saber.

 

(Entra música incidental – tema da Partitura 10. O Estranho volta-se e caminha em direção do casal. Pára e olha-os, cheio de piedosa ironia. Faz menção de retirar-se. Volta-se, tira uma flor da lapela e prende-a nos cabelos da Terra do Além-Mar. Sai. Mais forte o tema musical e as luzes começam a baixar lentamente, até a completa escuridão.)

 

Canto dos Conquistadores

Vem vento vem, vem do mar, / varre essas nuvens do céu. / Borda a noite de um azul escuro / com estrela e luar. / Vê Saudade, a praia faceira, / no jardim a velha figueira. /Em Itaguaçu, pedra e mar / e a Conceição pra sonhar! / Vê o Morro da Cruz, meu presépio / e a ponte que é luz a chamar. Vê também o meu coração / e a voz do meu violão.

 

 

AUTO DA CONQUISTA

 

POESIA DE ANIBAL NUNES PIRES, INSERIDA NO TEXTO.

 

OS HOMENS NUS E A PAISAGEM VERDE DESPERTARAM A AMBIÇÃO.

OS VENTOS CASTIGARAM AS NAUS E A MORTE RIU NAS ESCOTAS DOS BARCOS LIGEIROS.

A SEDE, A ANGÚSTIA, O CALOR. O FRIO, A MORTE, A DOR. FILHOS MORRENDO. HOMENS ATIRADOS AO MAR.

QUE OUTROS DESÍGNIOS VOS ESPERAM NESSAS ILHAS SEM ENDEREÇO?

PELOS CAMINHOS DO MUNDO NENHUM DESTINO SE PERDE.

HÁ OS GRANDES SONHOS DOS HOMENS E A SURDA FORÇA DOS VERMES.

INQUIETAS ESTÃO AS SEMENTES. APENAS PARECEM ADORMECIDAS.

VOSSA TERRA SERÁ NOVA. IDE CONQUISTÁ-LA NÃO PARA DÁ-LA A UM MAS PARA DÁ-LA A TODOS. PARA TODO O VOSSO POVO.

SABEREMOS ACARICIAR AS NOVAS FLORES PORQUE A TERRA NOS ENSINARÁ A TERNURA.

 

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